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Udada - Sisterhood

No meu caderninho de notas feito na viagem encontrei a seguinte frase “Tenho medo que nada do que eu pintar será capaz de traduzir uma pequena fração da beleza desse lugar, desse povo ou desta jornada.” Essa aflição me acompanhou e foi um dos inúmeros desafios que criei para mim mesma durante este projeto. Desafios que foram enriquecendo a cada dia desta experiência.  Parti de Lisboa e do desejo, talvez ingênuo e comum dos artistas, de fazer algo através da arte para ajudar ao próximo. Não só ao próximo que, como nós, frequenta exposições de arte e tem acesso a museus e obras. Neste caso quis me aproximar novamente das mulheres que tem a falta de um tipo de liberdade primordial; A escolha sobre sua vida e seu corpo.  Fui aprender mais sobre mutilação genital feminina e o casamento infantil através da organização local Covaw e através de relatos de comunidades Quenianas, me juntei a discussões em casas, escolas e mercados que falavam desses temas, das suas consequências e de outras opções.  Apesar da África ser o berço de toda a civilização, sei que este não é meu povo e minha cultura mas sou mulher e me preocupo com normas sociais que considero opressoras e as quais estamos muitas vezes tão habituadas que não conseguimos encontrar outros caminhos. Justamente por não ter esta prática na minha cultura via tudo isso com grande alarme e assim fui até lá. Ao chegar pude olhar com mais calma também para a nossa sociedade como um todo e preconceitos em geral. Quem já foi a África sabe que não é possível saciar um “desejo de África” em outro lugar, as cores, os sabores, as musicas, os gingados e principalmente os sorrisos são únicos. De longe tinha apenas vontade de espalhar informação, fazer passeatas, levar ajuda financeira, etc. Mas só quando fui passando de uma simples “Muzungu" (pessoa branca) para uma “Dada” (irmã) que aprendi que a mais rica ajuda, onde está o verdadeiro poder de mudança, é a troca e o afeto. Neste caso a união de meninas e mulheres com um desejo em comum de liberdade. Assim é impossível ajudar um pouco sem ser profundamente ajudada e transformada.

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