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Futuro Oásis

Denotando a incerteza que se oculta em toda projeção de porvir, o título dessa exposição poderia ser acompanhado por um ponto de interrogação: a sugestão de uma incógnita – "futuro oásis?" – responderia, assim, às reflexões contemporâneas que, sem entusiasmo, creem na falência e não na evolução, na ruína em detrimento à construção. Envoltos em pessimismo, sentimentos comemorativos ou desolados dando conta do fim têm moldado o pensamento dos séculos XX e XXI: a morte das ideologias (Lyotard), do real (Baudrillard), da autoria (Barthes), além do fim da história da arte (Danto e Belting) e até mesmo o – quase apocalíptico – fim do futuro (Berardi), para citar alguns. O futuro coloca-se como fardo e não fundação. Mas apesar disso, ainda há espaço para o poético. A imagem de um oásis – evocando igualmente um espaço simbólico e uma cercania concreta na geografia – revela-se como um destino onírico, uma expectativa de horizonte onde coexistem o maravilhamento e a surpresa. Se o oásis representa o otimismo em profusão solar, a paisagem e a natureza ocupam também um campo fértil para a projeção do oculto e do temor: a ideia da noite sempre caracterizou o momento em que o mal – escondido durante o dia por não suportar a luz – vem à tona. A tempestade projeta a alegoria da fúria divina, tão breve quanto intensa. E dentre todos os lugares tradicionalmente assombrados pelo perigo e pelos significados transcendentes que lhes eram atribuídos, o oceano talvez fosse o pior. Tanto o futuro quanto o oásis parecem encerrar em si projeções de uma paisagem simbólica a desbravar, um alento entre o real e a miragem. "A beleza será convulsiva ou não será" – com essa máxima, André Breton conclui uma de suas principais obras literárias, sugerindo a intensidade que se espera das experiências estéticas: tal frase mostra-se fértil para introduzir o diálogo entre os trabalhos de Cela Luz, Fernanda Feher, Gabriel Botta, Sarah Heinemann e Talita Zaragoza – reunidos na exposição Futuro Oásis. Apesar de não buscar similitudes que enquadrem as obras em uma unidade restrita, certamente a mostra explora uma fisicalidade intensa que nada tem de meditativa: a natureza é configurada por composições indomadas e disformes, tão caóticas quanto aprazíveis. As obras ora acercam-se do abstrato e ora revelam a reinterpretação figurativa de seus referentes: com a liberdade concedida pela pintura e pela escultura, os processos de criação não buscam ancorar a poesia à verdade. Intempestivos, os contornos desgarrados presentes em cada obra são fruto da presença marcante da matéria – seja o látex, a cerâmica ou densos pigmentos sobre a tela. Pela utopia evocada ou pela vibração despertada, percorrer a exposição assemelha se a correr por um território de euforia. O horizonte parece estar em ebulição.

Texto de Henrique Menezes

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